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Página:Graciliano Ramos - S. Bernardo (1934).pdf/126

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que tinha a vista presa no telhado escuro do estabulo.

Não deu resposta. Puz-me a olhar o bebedouro dos animaes, o leito vazio do riacho alem do sangradouro do açude e, longe, na encosta da serra, a pedreira, que era apenas uma nodoa alvacenta. A mata ia ennegrecendo. Um vento frio começou a soprar. As ultimas cargas de algodão chegaram ao descaroçador. Houve um apito demorado e os trabalhadores largaram o serviço. Consultei o relogio: seis horas.

— É horrivel! bradou Magdalena.

— Como?

— Horrivel! insistiu.

— Que é?

— O seu procedimento. Que barbaridade!

Desproposito.

— Que diabo de historia...

Estaria tresvariando? Não: estava bem accordada, com os beiços contrahidos, uma ruga entre as sobrancelhas.

— Não entendo. Explique-se.

Indignada, a voz tremula:

— Como tem coragem de espancar uma criatura daquella fórma?

— Ah! sim! por causa do Marciano. Pensei que fosse coisa seria. Assustou-me.

Naquelle momento não suppuz que um caso tão insignificante pudesse provocar desavença entre pessoas razoaveis.