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Página:Graciliano Ramos - S. Bernardo (1934).pdf/128

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XXII


D. Gloria gostava de conversar com seu Ribeiro. Eram conversas interminaveis, em dois tons: elle falava alto e olhava de frente, ella cochichava e olhava para os lados. Quando me via, calava-se.

Comprehendo perfeitamente essas mudanças. Fui trabalhador alugado e sei que de ordinario a gente miuda emprega as horas de folga depreciando os que são mais graudos. Ora, as horas de folga de d. Gloria eram quasi todas.

Dormia, almoçava, jantava, ceava, lia romances á sombra das laranjeiras e atenazava Maria das Dores, que endoidecia com a collaboração della. Queixava-se de tudo: dos ratos, dos sapos, das cobras, da escuridão. Affectava na minha presença uma attitude de victima. Não se cançava de gabar a cidade, fóra de proposito. Passava parte dos dias no escriptorio.

Seu Ribeiro tratava-a por excellentissima senhora (Magdalena era apenas excellentissima). Julguei perceber, por certas palavras, gestos e