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Página:Graciliano Ramos - S. Bernardo (1934).pdf/129

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silencios, que ella ia ali deplorar a sorte da sobrinha. Estava sempre ao pé da carteira, amolando.

Magdalena batia no teclado da machina. Seu Ribeiro escrevia com lentidão tremula, ás vezes se aperreava procurando a regua, a borracha, o frasco de colla, que se ausentavam, porque d. Gloria tinha o mau costume de mexer nos objectos e não os pôr nunca onde os encontrava. Eu me damnava com essa desordem, fechava a cara, dava ordens seccas rapidamente e sahia para não estourar. Emfim desabafei. Num dia quatro o balancete do mez passado não estava prompto.

— Porque foi esse atrazo, seu Ribeiro? Doença?

O velho esfregou as suissas, angustiado:

— Não senhor. É que ha uma differença nas sommas. Desde hontem procuro fazer a conferencia, mas não posso.

— Porque, seu Ribeiro?

E elle calado.

— Está bem. Ponha um cartaz ali na porta prohibindo a entrada ás pessoas que não tiverem negocio. Aqui trabalha-se. Um cartaz com letras bem grandes. Todas as pessoas, ouviu? Sem excepção.

— Isso é commigo? disse d. Gloria esticando-se.

— Prepare logo o cartaz, seu Ribeiro.

— Perguntei se era commigo, tornou d. Gloria diminuindo um pouco.