— Ora, minha senhora, é com toda a gente. Se eu digo que não ha excepção, não ha excepção.
— Vim falar com minha sobrinha, balbuciou d. Gloria reduzindo-se ao seu volume ordinário.
— Sua sobrinha, emquanto estiver nesta sala, não recebe visitas, é um empregado como os outros.
— Eu não sabia. Pensei que não interrompesse.
— Pensou mal. Ninguém pode escrever, calcular e conversar ao mesmo tempo.
D. Gloria saiu descrevendo um angulo recto: esgueirou-se da carteira até a parede e, beirando-a, alcançou a porta, que se abriu e fechou silenciosamente. Sentei-me e comecei a confrontar o diário
com o razão. Seu Ribeiro aproximou-se para auxiliar-me.
— Obrigado.
Seu Ribeiro apromptou, com o canivete e a régua, um quadrado de papelão. Magdalena levantou-se, cobriu a machina, trouxe-me as cartas, esperou que eu terminasse a leitura delas e retirou-se. Assignei as cartas e metti-as nos envelopes.
— Que é que d. Gloria vem fuchicar aqui, seu Ribeiro?
— Nada de importância, respondeu o guarda-livros. A senhora d. Gloria é um coração de ouro e versa differentes themas com proficiencia, mas eu, para ser franco, não a tenho escutado com a de vida attenção.
Página:Graciliano Ramos - S. Bernardo (1934).pdf/130
Aparência