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Página:Graciliano Ramos - S. Bernardo (1934).pdf/135

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S. BERNARDO

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Magdalena interrompeu-me:
— E nos exames ainda tinha tempo de caba­lar os examinadores, Deus e o mundo para eu não ser reprovada. D. Gloria é incansável. O que ella não pode é dedicar-se a um trabalho continuado: consome-se em trabalhos incompletos. E’ por isso a inquietação em que vive. Aqui não ha os bilhe­tes do cinema, os accordams do tribunal, os assen­tamentos de baptizados, o caderno de contas do padeiro. D. Gloria vê machinas e homens que funccionam como as machinas. Entretanto d. Glo­ria procura ser util: vai á igreja, põe flores nos al­tares e limpa os vidros das imagens na sacristia; tenta cozinhar e não se entende com Maria das Dores; offerece-se para ajudar seu Ribeiro; já ex­perimentou escrever em machina.
Um caminhão rodou em direcção á serraria; vinham da mata pancadas seccas de machado; carros de bois chiavam para os lados de Bom Suecesso.
— Como tenho dito, não concordo com esse es­banjamento de energia. A gente deve habituar-se a fazer uma coisa só.
— D. Gloria nada ganharia se se aperfeiçoas­ se em vender bilhetes no cinema ou escrever os ba­ptizados: a paga seria sempre insignificante.
— Porque não se empregou em officio mais rendoso?
— Difficil. Demais é necessário haver quem venda os bilhetes e copie os accordams.