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Página:Graciliano Ramos - S. Bernardo (1934).pdf/139

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S. BERNARDO

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— Estupida! exclamei com raiva.
E pensei no vestido da Rosa, nos sapatos e nos lençoes da velha Margarida.
— Desperdicio.
Depois recordei o volante e o dynamo.
— Estúpida!
Está visto que Magdalena não tinha nada com o descaroçador e a serraria, mas naquelle momento não reflecti nisso: misturei tudo e a minha cólera augmentou. Uma cólera despropositada. Esqueci os presentes que, ha alguns annos, a Rosa me co­ meu (pó de arroz, voltas de conta) e as despesas que fiz com Margarida, até automovel ao sertão, até clichês para o jornal do Gondim. O que me pareceu foi que Magdalena estava gastando á toa.
— A’ toa, percebem?
Repeti para convencer-me:
— A’ toa. Desperdicio.
Por cima do capim gordura já não se via a cabecinha branca de M argarida. Num cotovello do caminho o vulto de Marciano tinha desapparecido. Com 0 descambar do sol, o telhado da serraria estava mais vermelho.
Não seria mau despedir o machinista.
— Que gente!
Concentrei-me no caso do dynamo, que era o que me havia predisposto a considerar prodigali­dades os sapatos, os lençoes e o vestido de seda.
Depois tranquillizei-me. Arredar o machinista, sim senhor, boa solução.