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Página:Graciliano Ramos - S. Bernardo (1934).pdf/142

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GRACILIANO RAMOS

constrangimento foi desapparecendo. Padilha tinha os olhos baixos.
Porque era que eu não punha o Padilha fóra de casa, aquelle parasita que me levava cento e cincoenta mil reis por mez com a tapeação da es­cola e estava fuchicando, visivelmente fuchicando?
Virei o rosto e descancei a vista no pateo, muito alvo, coberto de pedra miuda e areia. Andavam ali áquella hora pombos como os diabos, voando baixo, passeando, emproados, belliscando o chão. Contei uns cincoenta. Perdi a conta, recomecei sem resultado. Eram bem duzentos.
Recordei o tempo em que aquillo só tinha mussambês e lama. O riacho, um pouco de agua turva num sulco estreito e tortuoso, derramava-se pela varzea, empapando o solo. E as cercas do Men­donça avançando.
Que differença! Senti desejo de levantar-me e exclamar:
— Vejam isto. Estão dormindo? Accordem.
As casas, a igreja, a estrada, o açude, as pastagens, tudo é novo, O algodoal tem quasi uma legua de comprimento e meia de largura. E a mata é uma riqueza. Cada pé de amarello! cada cedro! Olhem o descaroçador, a serraria. Pensam que isto nasceu assim sem mais nem menos?
Padilha continuava tagarelando com Magdalena. Ergui os hombros:
— Para o inferno, para a casa da peste!