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Página:Graciliano Ramos - S. Bernardo (1934).pdf/147

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S. BERNARDO

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— Política, padre Silvestre? fez João Noguei­ra sorrindo.
Padre Silvestre arregalou os olhinhos baços:
— Porque não? O senhor ha de confessar que estamos á beira dum abysmo.
Padre Silvestre é desorientado. Com uma freguezia trabalhosa, anda no mundo da lua. Damnadamente liberal.
Padilha metteu o bedelho na conversa:
— Apoiado.
— Um abysmo, repetiu padre Silvestre.
— Que abysmo? perguntou Azevedo Gondim.
O reverendo estudou uma resposta energica:
— Isso que se vê. E’ a fallencia do regimen. Deshonestidades, patifarias.
— Quaes são os patifes? inquiriu João No­gueira.
Padre Silvestre estirou o beiço inferior e amoitou-se. As opiniões delle são as opiniões dos jornaes. Como, porém, essas opiniões variam, padre Silvestre, impossibilitado de admittir coisas contradictorias, lê apenas as folhas da opposição. A cre­dita nellas. Mas experimenta ás vezes duvidas. Elias juram que os homens do governo são malan­dros, e elle conhece alguns respeitáveis. Isso pre­ judica as convicções que a letra impressa lhe dá. Necessitando accommodar as suas observações com as affirmações alheias, acha que os politicos, indi­vidualmente, são criaturas como as outras, mas em conjuncto são uns malfeitores.