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Página:Graciliano Ramos - S. Bernardo (1934).pdf/149

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S. BERNARDO

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revolução, disse Nogueira, Que vantagem lhe traria ella?
— Nenhuma, respondeu o vigário. A mim não traria vantagem. Mas a collectividade ganharia muito.
— Esperem por isso, atalhou Azevedo Gondim. Os senhores estão preparando uma fogueira e vão assar-se nella.
— Literatura! resmungou Padilha.
— Literatura não, gritou Azevedo Gondim. Se rebentar a encrenca, ha de sahir boa coisa, hein. Nogueira?
— O fascismo.
— Era o que vocês queriam. Teremos o communismo.
D. Gloria benzeu-se e seu Ribeiro opinou:
— Deus nos livre.
— Tem medo, seu Ribeiro? perguntou Magdalena sorrindo.
— Já vi muitas transformações, excellentissima, e todas ruins.
— Nada disso, asseverou padre Silvestre. Es­sas doutrinas exóticas não se adaptam entre nós. O communismo é a miséria, a desorganização da so­ciedade, a fome.
Seu Ribeiro passou os dedos pela careca lus­trosa:
— No tempo de D. Pedro, corria pouco dinheiro, e quem possuia um conto de reis era rico.
Mas havia fartura, a abobora apodrecia na roça.