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GRACILIANO RAMOS
Mamona, caroço de algodão, não tinham valor. Com a proclamação da republica ficaram custando os olhos da cara. Por isso eu digo que essas mudanças só servem para atrapalhar a vida. A estrada de ferro...
— Uma nação sem Deus! bradava padre Silvestre a d. Gloria. Fuzilaram os padres, não escapou um. E os soldados, bebedos, espatifavam os santos e dançavam em cima dos altares.
D . Gloria gemia com as mãos no peito:
— Que horror! E ’ possivel! Nos altares!
— Espatifaram nada! interveio Padilha. Isso
é propaganda contrarevolucionaria.
— E o senhor trabalha para isso, padre Silvestre, exclamou Gondim.
O vigário desculpou-se:
— Eu não. Estou quieto, no meu canto. Agora achar que o governo é mau, eu acho. Que ha
urgência de reforma, ha. Quanto ao communismo, lorota, não pega. Descancem : entre nós não pega.
O povo tem religião, o povo é catholico.
João Nogueira discordou:
— E’ o que elle não é. Ninguém conhece
doutrina. Se um protestante canta hymnos e préga o evangelho, os devotos das procissões vão escutal-o ; outros pendem para o espiritismo ; e a canalha acredita em feitiçaria e até adora arvores. Muitos entram no eatholicismo como num hotel, escolhem um prato, com fastio, e cruzam o
talher. Os mais avançados são dyspepticos. O se-
Página:Graciliano Ramos - S. Bernardo (1934).pdf/150
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