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Página:Graciliano Ramos - S. Bernardo (1934).pdf/154

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XXV

Comecei a sentir ciumes. O meu primeiro de­ sejo foi agarrar o Padilha pelas orelhas e deital-o foi a, a pontapés. Mas conservei-o para vingar-me. Arredei-o de casa, a bem dizer prendi-o na escola. Lá vivia, lá dormia, lá recebia alimento, boia fria, num taboleiro.
Estive quatro mezes sem lhe pagar o ordenado. E quando o vi succumbido, magro, com o collarinho sujo e o cabello crescido, pilheriei:
— Tenha paciência. Logo você se desforra. Você é um apostolo. Continue a escrever os contozinhos sobre o proletário.
O infeliz defendia-se. Com as humilhações continuadas, limitava-se por fim a engulir em secco. Um dia chorou, pediu-me soluçando que lhe arranjasse uma collocação no fisco estadual.
— Impossível, Padilha. Espere o soviet. Você se collocará com facilidade na guarda ver­melha. Quando isso acontecer, não se lembre de mim não, Padilha, seja camarada.