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Página:Graciliano Ramos - S. Bernardo (1934).pdf/155

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S. BERNARDO

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Na casa grande, que Tubarão e Casimiro Lo­pes guardavam, a vida era uma tristeza, um abor­recimento. D . Gloria passava as tardes debaixo das laranjeiras, empalhando-se com brochuras e folhetins. Magdalena bordava e tinha o rosto co­berto de sombras.
A’s vezes as sombras se adelgaçavam. E findo o trabalho, tudo convidava a gente ás conver­sas molles, aos cochilos, ao embrutecimento.
Uma aragem corria. Vinham-me arrepios, bons, desejo de espreguiçar-me. Via o monte, que a fita vermelha da estrada contorna, a mata, o algodoal, a agua parada do açude.
Magdalena soltava o bordado e enfiava os olhos na paizagem. Os olhos cresciam. Lindos olhos.
Sem nos mexermos, sentiamos que nos juntavamos, cautelosamente, cada um receando maguar o outro. Sorrisos constrangidos e gestos vagos.
Eu narrava o sertão. Magdalena contava factos da escola normal. Depois vinha o arrefeci­mento. Infallivel. A escola normal! Na opinião do Silveira, as normal istas pintam o bode, e o Sil­veira conhece instrucção publica nas pontas dos dedos, até compõe regulamentos. As moças apren­dem muito na escola normal.
Não gosto de mulheres sabidas. Chamam-se intellectuaes e são horriveis. Tenho visto algu­mas que recitam versos no theatro, fazem confe-