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Página:Graciliano Ramos - S. Bernardo (1934).pdf/156

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GRACILIANO RAMOS

rencias e conduzem um marido ou coisa que o valha. Falam bonito no palco, mas intimamente, com as cortinas cerradas, dizem:
— Me auxilia, meu bem.
Nunca me disseram isso, mas disseram ao No­gueira. Imagino. Apparecem nas cidades do in­terior, sorrindo, vendendo folhetos, discursos, etc. Provavelmente empestaram as capitaes. Horríveis.
Magdalena, propriamente, não era uma intel­lectual. Mas descuidava-se da religião, lia os telegrammas extrangeiros.
E eu me retrahia, murchava.
Requebrando-se para o Nogueira, ao pé da janella, sorrindo! Sorrindo exactamente como as outras, as que fazem conferencias. Perigo. Quem se remexer para João Nogueira estrepa-se. Bom advogado, negocios direitos, sim sim, não nãomas no genero mulher é uma rede, não deita agua a pinto. E aquella conversa teria sido a primei­ra? Antes da minha bruta cabeçada, elles se en­tendiam. Talvez namorassem. Quando, em casa do dr. Magalhães, eu tinha encontrado Magdale­na, João Nogueira estava lá. Tapado, o dr. Ma­galhães, tapadissimo. Escutal-o é peor que ouvir serrar madeira. “Sou juiz, entende? Juiz. Le­vanto-me pela manhã"... O Nogueira, de olho duro, gramando aquillo! Interesse. Começara a falar em politica, Magdalena levantara a cabeça, curiosa. E, com dois annos de casada, num vão de janella, desmanchava-se toda para elle.