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Página:Graciliano Ramos - S. Bernardo (1934).pdf/157

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S. BERNARDO

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Erguia-me, insultava-a mentalmente:
— Perua!
Até com o Padilha! Como diabo tinha ella coragem de se chegar a uma lazeira como o Padilha? A questão social.
— Está aqui para a questão social. O que ha é semvergonheza.
Depois a collaboração no jornal do Gondim. Continuava a collaborar. Pouco, mas continuava.
O Gondim e ella tinham sido unha com carne. Lembram-se da tarde em que elle me deu para­béns, estupidamente? Familiaridade. E discutiam as pernas e os peitos della!
Eu tinha razão de confiar em semelhante mu­lher? Mulher intellectual.
E a minha cara devia ser terrivel, porque Magdalena empallidecia e dava para tremer. Se eu soubesse... Soubesse o que! Ha lá ma­ rido que saiba nada?
Era possivel que os caboclos do eito estives­sem mangando de mim. Até Marciano e a Rosa commentariam o caso, na cama, de noite.
O Marciano conheceria as minhas relações com a Rosa? Não conhecia. Tive sempre o cuida­do de mandal-o á cidade, a compras, opportunamente. E talvez não quizesse conhecer. Também se podia admittir que fosse dotado de pouca pe­netração.
— Emfim certeza, certeza de verdade, nin­guém tem.