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Página:Graciliano Ramos - S. Bernardo (1934).pdf/158

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GRACILIANO RAMOS

Que diria seu Ribeiro? Que diria d. Gloria?
Afastava-me, lento, ia ver o pequeno, que en­gatinhava pelos quartos, ás quedas, abandonado. Acocorava-me e examinava-o. Era magro. Tinha os cabellos louros, como os da mãe. Olhos agateados. Os meus são escuros. Nariz chato. De ordinário as crianças têm o nariz chato.
Interrompia o exame, indeciso: não havia signaes meus; também não havia os de outro homem.
E o pequeno continuava a arrastar-se, cahindo, chorando, feio como os peccados. As perninhas e os bracinhos eram finos que faziam dó. Gritava dia e noite, gritava como um condemnado, e a ama vivia meio doida de somno. A’s ve­zes ficava roxo de berrar, e receei que estivesse morrendo quando padre Silvestre lhe molhou a cabeça na pia. Com a dentição encheu-se de tu­ mores, cobriram-no de esparadrapos: direitinho uma rez easteada. Ninguém se interessava por elle. D . Gloria lia. Magdalena andava pelos can­tos, com as palpebras vermelhas e suspirando. Eu dizia commigo:
— Se ella não quer bem ao filho!
E o filho chorava, chorava continuadamente. Casimiro Lopes era a unica pessoa que lhe tinha amizade. Levava-o para o alpendre e lá se punha a papaguear com elle, dizendo historias de onças, cantando para o embalar as cantigas do sertão.