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Página:Graciliano Ramos - S. Bernardo (1934).pdf/162

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GRACILIANO RAMOS

As do dr. Magalhães, homem de penna, eram macias como pellica, e as unhas, bem aparadas, certamente não arranhavam. Se elle só pegava em autos!
Magdalena resonava. Tão franzina, tão de­ licada! Ultimamente ia emmagrecendo.
Levantei-me e approximei-me da luz. As minhas mãos eram realmente enormes. F u i ao espe­lho. Muito feio, 0 dr. Magalhães; mas eu, naquella vida dos mil diabos, berrando com os ca­boclos o dia inteiro, ao sol, estava medonho. Quei­mado. Que sobrancelhas! O cabello era grisalho, mas a barba embranquecia. Sem me barbear! Que desleixo!
No dia seguinte encontrei Magdalena escre­vendo. Avizinhei-me nas pontas dos pés e li o en­dereço de Azevedo Gondim.
— Faz favor de mostrar isso?
Magdalena agarrou uma folha que ainda não havia sido dobrada.
— Não tem que ver. Só interessa a mim.
Perfeitamente. Mas é bom mostrar. Faz favor?
— Já não lhe disse que só interessa a mim? Que arrelia!
— Mostra a carta, insisti segurando-a pelos hombros.
Magdalena defendia-se, ora levantando o pa­pel com os braços estirados, ora escondendo-o atraz das costas: