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GRACILIANO RAMOS
as folhas das roseiras. Longe, no salão ou na cozinha, Magdalena continuava a gritar:
— Assassino!
Os outros nomes feios que ella me havia dito não tinham significação. Aquelle tinha uma significação. Era o que me atormentava. Mulheres, criaturas sensiveis, não devem metter-se em negocios de homens.
Antes delia, a unica pessoa que, na taboa da venta, me tachou de assassino foi Costa Brito,pela secção livre da “Gazeta”. Justamente quando acabava de dar-lhe o troco, tinha-me encangado a Magdalena. Canga infeliz! Não era melhor que eu tivesse quebrado uma perna? Mais vale uma boa amigação que certos casamentos.
Assassino! Como achara ella uma offensa tão inesperada? Acaso? Ou teria lido o jornal do Brito? O mais provável era Padilha haver referido alguns mexericos que por ahi circulam. Sim senhor! Estava o Padilha mudado em individuo capaz de fazer mal. Que graça! O Padilha! Recordei-me do caso do Jaqueira, mas a recordação desappareceu, e comecei a dizer mentalmente:
— Assassino! Assassino!
Encolerizei-me por estar perdendo tempo com
tolices.
Magdalena, d. Gloria, Padilha, puta que
pariu a todos.
A li malucando, e a gente do eito á vontade, cobrindo mato. Espreguicei-me. Uma noite sem
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Aparência