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Página:Graciliano Ramos - S. Bernardo (1934).pdf/168

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GRACILIANO RAMOS

Depois da violência da manhã, sentia-me cheio de optimismo, e a brutalidade que ha em mim virava-se para o mestre-escola.
Semvergonha! Era despedil-o. A’ tarde fui tratar disso.
Padilha offereceu-me a cadeira, sentou-tee num tamborete e, serio, em attitude de gallinha assada:
— A’s suas ordens, seu Paulo Honorio.
— Uma noticia desagradavel. Não preciso mais dos seus serviços.
— Porque? disse Padilha aturdido. Que foi que eu fiz?
— Ora essa! Pergunta a mim? Você deve sa­ ber o que fez.
— Não fiz nada. Que é que havia de fazer, trancado? A minha sujeição é maior que a dos presos da cadeia. Não saio. Se me afasto vinte passos, é com o Casimiro no cós das calças. Que foi que eu fiz? Aponte uma falta.
— Não dou explicações.
Padilha baixou a cabeça:
— Está certo. Sempre na linha, e por fim uma desta! Entra anno, sai anno, e o trouxa do empregado no toco, direito como um fuso, cum­prindo as obrigações, procurando agradar. Quan­do espera augmento de ordenado, lá vem pontapé.
Levantou-se:
— Dê-me ao menos alguns dias para arrumar