S . BERNARDO
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os troços e cavar um osso. Eu não posso sahir assim com uma mão atraz, outra adiante.
Ergui-me tambem:
— Tem um mez para se retirar.
— Muito obrigado, balbuciou Padilha. A
gente ainda deve agradecer. Bem feito. Se eu não servisse de espoleta a sua mulher, não acontecia isto.
Indignou-se:
— Espoleta! “Vá buscar um livro, seu Padilha”. Eu ia. “Traga papel, seu Padilha”. Eu trazia. “Copie esta pagina, seu Padilha”. Eu copiava. “Apanhe umas laranjas, seu Padilha”. Até apanhar laranjas! Espoleta! Aquella mulher foi
a causa da minha desgraça.
— Emende a lingua, ordenei.
— Que foi que eu disse? Que era espoleta.
Era. Por isso o senhor me demitte.
— Nada! O que ha é que você andava f a
zendo fuchicos, homem. Andava intrigando, homem. Andava tecendo enredos, homem.
Luiz Padilha embatucou. Depois, de um folego:
— Quaes são as intrigas, os fuchicos, os enredos? O senhor não mostra um. Eu sou culpado mulher ter idéas avançadas ? Se é isso...
— Não, não é isso.
— Então não sei.
— Escute, Padilha. E u estou pegando cincoenta annos e tenho corrido mundo. Você não
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Aparência