168
GRACILIANO RAMOS
me bota papa na lingua não. Vejo muita coisa e fecho os olhos, filho de Deus. Se eu affirmo que você vivia com fuchicos, é porque você vivia com fuchicos.
Padilha catava pulgas:
— Pois diga. A minha consciência não me accusa. Diga. Quando a gente sabe, diz.
— Deixe de chove-não-molha, repliquei troçando com elle. Você não contou invenções a Magdalena? Você não falou de mim? Falou ou não falou?
— Não falei não, seu Paulo. Se eu não sei
nada!
— Tire o cavallo da chuva, rapaz. E u ouvi.
Padilha encabulou:
— Está bem. Se o senhor ouviu, não discutimos. Naturalmente ouviu o que eu não disse.
Ouvi o que você disse. Não teime. Tenho
bom ouvido.
— Se ouviu, concedeu Padilha, foi a historia da morte do Mendonça. D. Magdalena já sabia...
— Sabia o que?
— O que o povo resmunga. Calumnias. Eu
expliquei tudo e defendi o senhor: “D. Magdalena, isso é um caso antigo, e mexer nelle não dá vida a ninguém. O velho Mendonça era uma postema, furtava as terras dos vizinhos. Quanto ao que espalham por ahi, não acredite: são aleives. Seu Paulo tem bom coração e é incapaz de matar um pinto”.
Página:Graciliano Ramos - S. Bernardo (1934).pdf/170
Aparência