S. BERNARDO
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Lembrei-me da briga da manhã. Exactamente o que eu tinha presumido: mexericos daquelle
traste.
— Oh Padilha, porque foi que você disse que
Magdalena era a causa da sua desgraça?
— E o senhor quer negar? Se não fosse ella,
eu não perdia o emprego. Foi ella. E, veja o senhor, eu não gostava daquillo. Muitas vezes opinei, sem rebuço: “D. Magdalena, seu Paulo em birra com o socialismo. E’ melhor a senhora deixar de novidade. Essas conversas não servem”. Está ahi. Papagaio come milho, periquito leva a fama. O periquito sou eu.
Fraquejei:
— Que diabo discutiam vocês?
O meu ciume tinha-se tornado publico. Padilha sorriu e respondeu, hypocrita:
— Literatura, politica, artes, religião... Uma senhora intelligente, a d. Magdalena. E instruída, é uma bibliotheca. A final eu estou chovendo no molhado. O senhor, melhor que eu, conhece a mulher que possue.
Página:Graciliano Ramos - S. Bernardo (1934).pdf/171
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