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Página:Graciliano Ramos - S. Bernardo (1934).pdf/172

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XXVIII

“O senhor conhece a mulher que possue”. Que phrase!
Padilha sabia alguma coisa. Saberia? Ou te­ria falado á toa?
Conjecturas. O que eu desejava era ter uma certeza e acabar depressa com aquillo. Sim ou não.
“O senhor conhece a mulher que possue”. Conhecia nada! Era justamente o que me tirava o appetite. Viver com uma pessoa na mesma casa, comendo na mesma mesa, dormindo na mesma cama, e perceber ao cabo de annos que ella é uma extranha! Meu Deus! Mas se eu ignoro o que ha em mim, se esqueci muitos dos meus actos e nem sei o que sentia naquelles mezes compridos de tortura!
Já viram como perdemos tempo em padeci­mentos inuteis? Não era melhor que fossemos como os bois? Bois com intelligencia. Haverá es­tupidez maior que atormentar-se um vivente por