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Página:Graciliano Ramos - S. Bernardo (1934).pdf/173

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S. BERNARDO

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gosto? Será? não será? Para que isso? Procurar dissabores! Será? não será?
Se eu tivesse uma prova de que Magdalena era innocente, dar-lhe-ia uma vida como ella nem imaginava. Comprar-lhe-ia vestidos que nunca mais se acabariam, chapeos caros, dúzias de meias de seda. Seria attencioso, muito attencioso, e cha­maria os melhores médicos da capital para curarlhe a pallidez e a magrem. Consentiria que ella offerecesse roupa ás mulheres dos trabalhadores.
E se eu soubesse que ella me trahia ? A h ! Se eu soubesse que ella me trahia, matava-a, abrialhe a veia do pescoço, devagar, para o sangue correr um dia inteiro.
Mas logo me enjoava do pensamento feroz. Que rendia isso? Um crime inútil! E ra melhor abandonal-a, deixal-a soffrer. E quando ella ti­vesse viajado pelos hospitaes, quando vagasse pelas ruas, faminta, esfrangalhada, com os ossos furando a pelle, costuras de operações e marcas de fe­ridas no corpo, dar-lhe uma esmola pelo amor de Deus.
Seria? não seria?
Insignificâncias. No meio das canceiras a morte chega, o diabo carrega a gente, os amigos en­tortam o focinho na hora do enterro, depois es­quecem até os pirões que filaram.
Que me importavam as opiniões do Padilha, de seu Ribeiro, de d. Gloria, de Marciano? Casi-