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Página:Graciliano Ramos - S. Bernardo (1934).pdf/176

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GRACILIANO RAMOS

“Aquella mulher foi a causa da minha des­graça.” Que falta de respeito! Ha quem atire se­melhante heresia em cima duma senhora casada, nas barbas do marido? Ha? Não ha. Querem mais claro?
Padre Silvestre passou por S. Bernardo — e eu fiquei de orelha em pé, desconfiado. Deus me perdoe, desconfiei. Cavallo amarrado também come. A infelicidade deu um pulo medonho: notei que Magdalena namorava os caboclos da lavoura. Os caboclos, sim senhor.
A’s vezes o bom senso me puxava as orelhas: Baixa o fogo, sendeiro. Isso não tem pé nem cabeça.
Realmente, uma criatura branca, bem lavada, bem vestida, bem engommada, bem aprendida, não ia encostar-se aquelles brutos escuros, sujos, fedo­rentos a pituim. Os meus olhos me enganavam. Mas se os olhos me enganavam, em que me havia de fiar então? Se eu via um trabalhador de en­xada fazer um aceno a ella!
Com esforço e procurando distracção, conse­guia reprimir-me. Era intuitivo que o aceno não podia ser para ella. Não podia.
Ora não podia!
Mulher não vai com carrapato porque não sabe qual é o macho.