S. BERNARDO
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Magdalena abraçava-se aos travesseiros, soluçando.
Um assobio, longe. Algum signal convencio
nado.
— E’ assobio ou não é! Marcou entrevista
aqui no quarto, em cima de mim? E’ só o que
falta. Quer que eu saia? Se quer que eu saia, é dizer. Não se acanhe.
Magdalena chorava como uma fonte.
Entristecia-me. Grosseiro, monstruosamente
grosseiro.
E se as passadas e o assobio não fossem por
causa delia? Ah! Sendo assim, eu picado para linguiça não pagava o que devia. E se as passadas e o assobio não existissem? Lembrava-me duma noite em que me aperreei de verdade e puxei a lambedeira, com medo dum rato. Ha peste mundo cada engano da peste! E decidia corrigir-me:
— Vamos deixar de choradeira. L á por assobiarem no pomar e passearem no jardim não é preciso a senhora se desmanchar em agua. E melhor acabar com essa cavilação.
Magdalena chorava, chorava, até que por fim, cançada de chorar, pegava no somno. Encolhia-me á beira da cama, para evitar o contacto della. Quando ia adormecendo, percebia o ranger de chave em fechadura e o rumor de telhas arrastadas. Despertava num sobresalto e continha a respiração.
Quem estaria futucando portas? Quem estaria destelhando a casa?
Página:Graciliano Ramos - S. Bernardo (1934).pdf/179
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