Saltar para o conteúdo

Página:Graciliano Ramos - S. Bernardo (1934).pdf/180

Wikisource, a biblioteca livre

178

GRACILIANO RAMOS

Approximava-me de Magdalena, observavallie o rosto. Teria ouvido? Ou estaria a fingir que dormia?
Levantava-me, arrastava uma cadeira, senta­va-me. Magdalena resonava.
Uma pancada no relogio da sala de jantar. Que horas seriam? Meia? uma? uma e meia? ou metade de qualquer outra hora?
Com certeza ninguém, tinha bulido na fechadu­ra nem nas telhas. Maluqueiras de sonho. Talvez as pisadas também tivessem sido abusão de sonho. Um pesadelo. Isso. Um pesadelo. Era possivel que o assobio fosse grito de coruja.
Não podia dormir. Contava de um a cem, e do­brava o dedo mindinho; contava de cem a duzentos, dobrava o seu vizinho; assim por diante, até com­pletar mil e ter as duas mãos fechadas. Depois con­tava cem, e soltava o dedo grande; mais cem, o furabolos; e quando chegava a dois mil, as duas mãos estavam abertas. Repetia a leseira, imaginava para cada dedo que se movia um conto de reis de lucro no balanço, o que me rendia uma fortuna immensa, tão grande que me enjoava delia e interrompia a contagem.
Segunda pancada no relogio. Uma hora? uma e meia? Só vendo. Erguia-me, pisava com força. Magdalena continuava a dormir.
Destrancava e trancava a porta do corredor. Tornava a destrancar, tornava a trancar. E exami­nava o rosto de Magdalena. Que somno! Ali des-