Saltar para o conteúdo

Página:Graciliano Ramos - S. Bernardo (1934).pdf/182

Wikisource, a biblioteca livre

XXXI

Uma tarde subi á torre da igreja e fui ver Marciano procurar corujas. Algumas se haviam alo­jado no forro, e á noite era cada pio de rebentar os ouvidos da gente. Eu desejava assistir á extincção daquellas aves amaldiçoadas.
Lá de cima escutava o barulho que Marciano, invisivel, fazia. E, pelas quatro janellinhas aber­tas aos quatro cantos do ceo, contemplava a paizagem. Por uma dellas via em baixo um pedaço do escriptorio, uma banca e, sentada á banca, mi­nha mulher escrevendo. Com um ligeiro desvio de olhos, afastava a scena familiar e corriqueira, di­visava o oitão da casa, portas, janellas, a cama de d. Gloria, um canto da sala de jantar. Levantava a cabeça — e o horizonte compunha-se de telhas, argamassa, lambrequins. Mais para cima, campos, serra, nuvens.
O capim gordura tinha virado grama, e os bois que pastavam nelle eram como brinquedos de celluloide. O algodoal galgava collinas, descia, tor­nava a mostrar-se mais longe, desbotado. Numa