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Página:Graciliano Ramos - S. Bernardo (1934).pdf/183

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S. BERNARDO

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clareira da mata escura, quasi negra, desmaiavam na sombra figurinhas de lenhadores.
Uma coruja gritava. E Marciano surgia de esconderijos cheios de treva, o pichaim branco de teias de aranha:
— Mais uma. E’ um corujão da peste, seu Paulo.
Eu fungava:
— Em que estará pensando aquella burra? Escrevendo. Que estupidez!
Rosa do Marciano atravessava o riacho. Erguia as saias até a cintura. Depois que passava o lugar mais fundo, ia baixando as saias. Alcançava a margem, ficava um instante de pernas abertas, escorrendo agua, e sabia torcendo-se, com um re­melexo de bunda que era mesmo uma tentação.
A distancia arredondava e o sol dourava cocorutos de montes. Pareciam extraordinárias ca­beças de santos.
— Se aquella mosca morta prestasse e tives­se juizo, estaria aqui aproveitando esta catervagem de bellezas.
Ali pelos cafus desci as escadas, bastante sa­tisfeito. Apesar de ser um individuo mediana­mente impressionável, convenci-me de que este mundo não é mau. Quinze metros acima do solo, experimentamos a vaga sensação de ter crescido quinze metros. E quando, assim agigantados, vemos rebanhos numerosos a nossos pés, plantações esti­rando-se por terras largas, tudo nosso, e avista-