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Página:Graciliano Ramos - S. Bernardo (1934).pdf/185

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S. BERNARDO

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Passeando entre as laranjeiras, esqueci a poda, reli o papel e agadánhei idéas indefinidas que se baralharam, mas que me trouxeram um arrepio. Diabo! Aquillo era trecho de carta, e de carta a homem. Não estava la o nome do destinatário, faltava o principio, mas era carta a homem, sem duvi­da.
Li a folha pela terceira vez, atordoado, detendo-me nas expressões claras e procurando adi­vinhar a significação dos termos obscuros.
— Está aqui a prova, balbuciei assombrado. A quem serão dirigidas estas porcarias?
As suspeitas voaram para cima de João No­gueira, do dr. Magalhães, de Azevedo Gondim, do Silveira da escola normal. Reli a carta um pelotão de vezes, e emquanto lia, praguejava como um condemnado, e as fontes me latejavam.
A final a noite cahiu, não enxerguei mais as letras.
Sim senhor! Carta a homem!
Estive um tempão caminhando debaixo das fructeiras.
— Eu sou algum Marciano, bando de filhos dumas putas?
E voltei furioso, decidido a acabar depressa com aquella infelicidade. Zumbiam-me os ouvidos, dançavam-me listras vermelhas diante dos olhos.
Ia tão cego que bati com as ventas em Magdalena, que sahia da igreja.