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GRACILIANO RAMOS
— Meia volta! gritei segurando-lhe um braço. Temos negocio.
— Ainda? perguntou Magdalena.
E deixou-se levar para a escuridão da sacristia.
Accendi uma vela e, encostando-me á mesa carregada de santos, sobre o estrado onde padre Silvestre se paramenta em dias de missa:
— Que estava fazendo aqui? Fezando? E’ capaz de dizer que estava rezando.
— Ainda? repetiu Magdalena.
Esperei que ella me sacudisse desaforos, mas enganei-me: poz-se a observar-me como se me quizesse comer com os olhos muito abertos. Ferviam dentro de mim violências desmedidas. As minhas mãos tremiam, agitavam-se em direcção a Magdalena. Apertei-as para conter os movimentos e, com
os queixos contrahidos:
— A senhora escreveu uma carta.
O vento frio da serra entrava pela janella,
mordia-me as orelhas, e eu sentia calor. A porta gemia, de vez em quando dava no batente pancadas coléricas, depois continuava a gemer. Aquillo me irritava, mas não me veio a idéa de fechal-a. Magdalena estava como se não ouvisse nada. E eu, dirigindo-me a ella e a uma lithographia pendurada á parede:
Cuidam que isto vai ficar assim?
O pequeno mais velho do Marciano entrou
nas pontas dos pés. Sem me voltar para elle, bradei:
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Aparência