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Página:Graciliano Ramos - S. Bernardo (1934).pdf/187

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S. BERNARDO

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— Vai-te embora.
O menino approximou-se da janella.
— Vai-te embora, berrei de novo.
Provavelmente o meu aspecto lhe causou extranheza. Balbuciou:
— Fechar a igreja, seu Paulo.
Percebi que os meus modos eram desarrazoados e respondi com simulada brandura:
— Perfeitamente. Volta mais tarde, ainda é cedo.
Nove horas no relogio da sacristia.
O nordeste começou a soprar, e a porta bateu com furia . Mergulhei os dedos nos cabellos.
— Que estás fazendo, peste?
O cabrito fugiu.
Nem sei quanto tempo estive ali, em pé. A minha raiva se transformava em angustia, a an­gustia se transformava em cançaço.
— Para quem era a carta?
E olhava alternadamente Magdalena e os santos do oratorio. Os santos não sabiam, Magdalena não quiz responder.
O que me espantava era a tranquillidade que havia no rosto delia. Eu tinha chegado fervendo, projectando matal-a. Podia viver com a auctora de semelhante maroteira?
A’ medida, porem, que as horas se passavam, sentia-me cahir num estado de perplexidade e co­vardia.
As imagens de gesso não se importavam com