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Página:Graciliano Ramos - S. Bernardo (1934).pdf/188

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GRACILIANO RAMOS

a minha afflicção. E Magdalena tinha quasi a im­passibilidade delias. Porque estaria assim tão calma?
Affirmei a mim mesmo que matal-a era ac­ção justa. Para que deixar viva mulher tão cheia de culpa? Quando ella morresse, eu lhe perdoaria os defeitos.
As minhas mãos eontrahiam-se, moviam-se para ella, mas agora as eontraeções eram fracas e espaçadas.
— Fale, exclamei com voz mal segura.
— Para que?
— Ha uma carta. Eu preciso saber, comprehende?
Metti a mão no bolso e apresentei-lhe a folha, já amarrotada e suja. Magdalena extendeu-a so­bre a mesa, examinou-a, afastou-a para um lado.
— Então?
— Já li.
A vela acabou-se. Aecendi outra e fiquei com o phosphoro entre os dedos até queimar-me.
— Diga alguma coisa.
Pareceu-me que havia ali um equivoco e que se Magdalena quizesse, tudo se esclareceria. O co­ração dava-me coices desesperados, desejei doida­ mente convencer-me da innoeencia della.
— Para que? murmurou Magdalena. Ha tres annos vivemos uma vida horrivel. Quando pro­curamos entender-nos, já temos a certeza de que acabamos brigando.