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Página:Graciliano Ramos - S. Bernardo (1934).pdf/189

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S. BERNARDO

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— Mas a carta?
Magdalena apanhou o papel, dobrou-o e entregou-m’o:
— O resto está no escriptorio, na minha ban­ca. Provavelmente esta folha voou para o jardim quando eu escrevia.
— A quem?
— Você verá. Está em cima da banca. Não é caso para barulho. Você verá.
— Bem.
Respirei. Que fadiga!
— Você me perdoa os desgostos que lhe dei, Paulo?
— Julgo que tive as minhas razões.
— Não se trata disso. Perdoa?
Rosnei um monosyllabo.
— O que estragou tudo foi esse ciume, Paulo.
Palavras de arrependimento vieram-me á boca. Enguli-as, forçado por um orgulho estúpido. Muitas vezes por falta dum grito se perde uma boiada.
— Seja amigo de minha tia, Paulo. Quando desapparecer essa quisilia, você reconhecera que ella é boa pessoa.
Eu era tão bruto com a pobre da velha!
— Consequência desse malentendido. Ella tam­bém tem culpa. Um bocado ranzinza.
— Seu Ribeiro é trabalhador e honesto, você não acha?