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Página:Graciliano Ramos - S. Bernardo (1934).pdf/190

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GRACILIANO RAMOS

— Acho. Antigamente deu cartas e jogou de mão. Hoje é refugo. Um sujeito decente, coitado.
— E o Padilha...
— Ah! não! Um enredeiro. Nem está direito você torcer por elle. Safadissimo.
— Paciencia! O Marciano... Você é rigoroso com o Marciano, Paulo.
— Ora essa! exclamei enfadado. Que rosário! — Não se zangue, disse Magdalena sem er­guer a voz.
— O que eu queria...
Sentei-me num banco.
O que eu queria era que ella me livrasse daquellas duvidas.
Que é que você queria? perguntou Magda­ lena sentando-se também.
— Sei lá!
E encolhi-me, as mãos pesadas sobre os joelhos. Magdalena, com um ar meio serio, meio de brin­cadeira:
— Se eu morrer de repente...
— Que historia é essa, mulher? Lembrança fóra de proposito.
— Porque não ? Quem sabe qual ha de ser o meu fim ? Se eu morrer de repente. . . — Acabe com isso, criatura. Para que falar nessas coisas?
— Offereça os meus vestidos á familia de mestre Caetano e á Rosa. Distribua os livros com seu Ribeiro, o Padilha e o Gondim.