S. BERNARDO
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Levantei-me, impaciente:
— Que conversa sem geito!
E agarrei-me a um assumpto agradavel para
afugentar aquellas idéas tristes:
— Estou com vontade de viajar.
Sentei-me novamente, animei-me, accendi um
cigarro:
— Depois da safra. Deixo seu Ribeiro tomando conta da fazenda. Vamos á Bahia. Ou ao Rio. O Rio é melhor. Passamos uns mezes descançando, você cura a macacoa do estomago, engorda e se distrai. E’ bom a gente arejar. A vida inteira neste buraco, trabalhando como negro! E damos um salto a S . Paulo. Valeu?
Magdalena, olhando a luz, que tremia, agitando sombras nas paredes, sahiu-se com esta:
— Hoje pela manhã já havia na mata alguns paus d’arco com flores. Contei uns quatro. D’aqui a uma semana estão lindos. E’ pena que as flores caiam tão depressa.
— Effectivamente, resmunguei procurando
relacionar o Rio e São Paulo com os paus d arco. E que me diz da viagem?
Magdalena tinha os olhos presos na vela:
— Sim, estive rezando. Rezando, propriamente, não, que rezar não sei. Falta de tempo.
Meu Deus! como andava aquella cabeça! Era
a resposta á minha primeira pergunta.
— Escrevia tanto que os dedos adormeciam.
Letras miudinhas, para economizar papel.
Nas
Página:Graciliano Ramos - S. Bernardo (1934).pdf/191
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