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GRACILIANO RAMOS
do. Que noite! Despi-me entre as bananeiras, metti-me na agua, mergulhei e nadei.
Quando cheguei a casa, o sol já estava alto.
O espinhaço ainda me doia. Que noite!
Subindo os degraus da calçada, ouvi gritos horriveis lá dentro.
— Que diabo de chamego é este?
Entrei apressado, atravessei o corredor do lado direito e no meu quarto dei com algumas pessoas soltando exclamações. Arredei-as e estaquei: Magdalena estava estirada na cama, branca, de olhos vidrados, uma espuma nos cantos da boca.
Approximei-me, tomei-lhe as mãos, duras e
frias, toquei-lhe o coração, parado. Parado.
No soalho havia mancha de liquido e cacos de vidro.
D . Gloria, cahida no tapete, soluçava, estrebuchando. A ama, com a criança nos braços, choramingava. Maria das Dores gemia.
Comecei a friccionar as mãos de Magdalena, tentando reanimal-a. E balbuciava:
— A Deus nada é impossivel.
Era uma phrase ouvida no campo, dias antes, e que me voltava, offerecendo-me uma esperança absurda.
Puz um espelho diante da boca de Magdalena, levantei-lhe as palpebras. E repetia machinalm ente:
— A Deus nada é impossivel.
— Que desastre, senhor Paulo Honorio, que
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Aparência