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GRACILIANO RAMOS
D. Gloria continuou, direita como um cabo
de vassoura:
— Não estou pedindo conselho. Vim despedir-me, que não saio como negro fugido. Mande-me as suas ordens.
Encetei um dos meus intermináveis passeios,
de um lado para outro:
Está bem. Cada qual é dono do seu nariz.
Quando volta?
— Nunca.
— Está bem.
Apressei o passo:
— Com quem vai?
— Com Deus.
Pois sim. O automovel tem gazolina. Divirta-se.
— Obrigada. Vou a pé.
Ahi eu queimei as alpercatas:
— Vai nada!
Parei soprando:
Largar-se pelo mundo, á toa, e dizer que
eu botei a senhora de casa para fóra, que eu sou morto a fome, que arribou d’ aqui com a roupa do corpo, não é?
D. Gloria, cada vez mais espichada, agastou-se:
— E o senhor me prende? Não matei, não
roubei, não diffamei... Vou.
E eu:
Quem esta falando em prender a senhora?
Página:Graciliano Ramos - S. Bernardo (1934).pdf/198
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