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GRACILIANO RAMOS
vergonha! Figurões do governo appareceram de repente com lenços vermelhos no pescoço.
— Isso foi em Alagoas, atalhava João Nogueira.
— Foi em toda a parte, homem. E mesmo agora, muitos não se passam porque não são acceitos.
— Quanto a mim, declarava Nogueira, tanto
me faz estar em cima como em baixo, que politica nunca me rendeu nada. Estou em baixo e não pretendo subir. E’ verdade que sempre achei a democracia um contrasenso. Muitas vezes lhe disse. O diabo é que votei na chapa do governo. Mas, aqui entre nos, a dictadura só não presta porque estamos no chão.
Gondim protestava, indignava-se. E eu:
— Só queria ver padre Silvestre fardado de
tenente.
— Que interesse tem elle em bancar o patriota? dizia Nogueira.
— Animal! resmungava Azevedo Gondim.
O Cruzeiro tinha perdido a subvenção.
Conversas assim, repetidas, distrahiam-me.
Uma vez por semana os dois amigos jantavam commigo. E na cidade sujeitos exaltados começavam a espalhar que S. Bernardo era um ninho de reacionarios.
— Como vai o fusuê?
— Mal.
Ela vinham noticias de violências desneces-
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