Saltar para o conteúdo

Página:Graciliano Ramos - S. Bernardo (1934).pdf/206

Wikisource, a biblioteca livre

204

GRACILIANO RAMOS

vergonha! Figurões do governo appareceram de re­pente com lenços vermelhos no pescoço.
— Isso foi em Alagoas, atalhava João No­gueira.
— Foi em toda a parte, homem. E mesmo ago­ra, muitos não se passam porque não são acceitos.
— Quanto a mim, declarava Nogueira, tanto me faz estar em cima como em baixo, que politica nunca me rendeu nada. Estou em baixo e não pre­tendo subir. E’ verdade que sempre achei a de­mocracia um contrasenso. Muitas vezes lhe disse. O diabo é que votei na chapa do governo. Mas, aqui entre nos, a dictadura só não presta porque estamos no chão.
Gondim protestava, indignava-se. E eu: — Só queria ver padre Silvestre fardado de tenente.
— Que interesse tem elle em bancar o patrio­ta? dizia Nogueira.
— Animal! resmungava Azevedo Gondim.
O Cruzeiro tinha perdido a subvenção.
Conversas assim, repetidas, distrahiam-me. Uma vez por semana os dois amigos jantavam commigo. E na cidade sujeitos exaltados começavam a espalhar que S. Bernardo era um ninho de reacionarios.
— Como vai o fusuê?
— Mal.
Ela vinham noticias de violências desneces-