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Página:Graciliano Ramos - S. Bernardo (1934).pdf/207

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S. BERNARDO
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sarias, vinganças, commissões de syndicancia la­vando roupa suja.
Nogueira, moderado, desejava um accordo entre vencedores e vencidos.
Gondim detestava accordos. Dente por dente, percebiamos? Dava-nos conselhos violentos, a mim, ao Nogueira, ás arvores do pomar, e instigava-nos a uma contrarevolução (quanto mais depressa me­lhor) que varresse do poder aquella cambada de parlapatões. Queria um governo energico, sim se­nhor, duro, sim senhor, mas sensato, um governo que trabalhasse, restabelecesse a ordem, a confian­ça do credor e a subvenção de cento e cincoenta mil réis mensaes ao Cruzeiro. Como iamos é que não podiamos continuar.
Atirava-nos palavrões encorpados que no jor­nal lhe serviam para tudo. S. Paulo havia de se erguer, intrépido; em S. Paulo ardia o fogo sagra­do; de S. Paulo, terra de bandeirantes, sahiriam novas bandeiras para a conquista da liberdade pos­tergada.
— Você fala bem, Gondim, murmurava eu im­pressionado. Você havia de trepar, Gondim, se o nosso partido não tivesse virado de pernas para o ar.
João Nogueira mettia as botas na eleição e in­culcava os conselhos technicos. Gondim gostava do voto como de um filho pequeno e só admittia te­chnicos nas commissões da camara.