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Página:Graciliano Ramos - S. Bernardo (1934).pdf/208

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GRACILIANO RAMOS

Casimiro Lopes, afastado, escutava-os com as­sombro.
Eu olhava a torre da igreja. E o meu pensa­ mento estirava-se pela paizagem, encolhia-se, descia as escadas, ia ao jardim, ao pomar, entrava na sa­cristia.
João Nogueira condemnava a literatura revo­ lucionaria, a patriotice alambicada.
O oratorio, sobre a mesa, estava cheio de san­tos ; na parede penduravam-se lithographias ; a por­ta dava pancadas no batente ; apagava-se a vela, eu accendia outra e ficava com o phophoro entre os dedos até queimar-me. As casas dos moradores eram húmidas e frias. A familia de mestre Caetano vi­via num aperto que fazia dó. E o pobre do Mar­ciano tão esbodegado, tão escavacado, tão por baixo!
Azevedo Gondim reclamava liberdade, aos gri­tos. Contenta-se com a renda mofina do jornal e deve os cabellos da cabeça. Conforma-se com isso. O que deseja é ver a gazeta de mangas arregaça­das, espumando, e no bilhar do Souza, quando a carambola falha, insultar os politicos, umas toupeiras.
Agora a vela estava apagada. Era tarde. A porta gemia. O luar entrava pela janella. O nor­deste espalhava folhas seccas no chão. E eu já não ouvia os berros do Gondim.