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Página:Graciliano Ramos - S. Bernardo (1934).pdf/215

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S. BERNARDO

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rinhos mais taludos soletravam a cartilha e apren­diam de cór os mandamentos da lei de Deus.
Bichos. Alguns mudaram de especie e estão no exercito, volvendo á esquerda, volvendo á direi­ta, fazendo sentinella. Outros buscaram pastos differentes.
Se eu povoasse os curraes, teria boas safras, de­positaria dinheiro nos bancos, compraria mais ter­ra e eonstruiria novos curraes. Para que? Nada disso me traria satisfação.
Colloquei-me acima da minha classe, creio que me elevei bastante. Como lhes disse, fui guia de cego, vendedor de doce e trabalhador alugado. Es­tou convencido de que nenhum desses officios me daria os recursos intellectuaes necessários para en­gendrar esta narrativa. Magra, de accordo, mas em momentos de optimismo supponho que ha nella pedaços melhores que a literatura do Gondim. Sou, pois, superior a mestre Caetano e a outros seme­lhantes. Considerando, porém, que os enfeites do meu espirito se reduzem a farrapos de conhecimen­tos apanhados sem escolha e mal cosidos, devo con­fessar que a superioridade que me envaidece é bem mesquinha.
Alem disso estou certo de que a escripturação mercantil, os manuaes de agricultura e pecuaria, que forneceram a essencia da minha instrucção, não me tornaram melhor do que eu era quando arras-