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Página:Graciliano Ramos - S. Bernardo (1934).pdf/218

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GRACILIANO RAMOS

Magdalena persegue-me. Diligencio afastal-a e ca­minho em redor da mesa. Aperto as mãos de tal forma que me firo com as unhas, e quando caio em mim estou mordendo os beiços a ponto de tirar sangue.
De longe em longe sento-me fatigado e escre­vo uma linha. Digo em voz baixa:
— Estraguei a minha vida, estraguei-a estu­ pidamente.
A agitação diminue.
— Estraguei a minha vida estupidamente.
Penso em Magdalena com insistência. Se fosse possivel recomeçarmos. . . Para que enganar-me? Se fosse possivel recomeçarmos, aconteceria exactamente o que aconteceu. Não consigo modifi­car-me, é o que mais me afflige.
A molecoreba de mestre Caetano arrasta-se por ahi, lambusada, fam inta. A Rosa, com a bar­riga quebrada de tanto parir, trabalha em casa, trabalha no campo e trabalha na cama. O marido é cada vez mais molambo. E os moradores que me restam são uns cambembes como elle.
Para ser franco, declaro que esses infelizes não me inspiram sympathia. Lastimo a situação em que se acham, reconheço ter contribuido para isso, mas não vou alem. Estamos tão separados! A principio esta vamos juntos, mas esta desgraçada profissão nos distanciou.
Magdalena entrou aqui cheia de bons senti-