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Página:Graciliano Ramos - S. Bernardo (1934).pdf/78

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GRACILIANO RAMOS

a integridade do juiz e para desemburrar-me um pouco. Fui á janella, accendi o cachimbo.

D . Marcella ia terminando a narração do romance. O advogado estava satisfeito. Apertei nos dentes o cachimbo e esfreguei as mãos com força:

— Ora muito bem. Que me dizem os senho­res da chapa do partido? Não conheço os candidatos, mas supponho que ha uns dois ou tres orado­res arrojados.

— O senhor acredita nisso? perguntou João Nogueira.

— Em que?

— Eleições, deputados, senadores.

Retrahi-me, indeciso, porque não tenho idéas seguras a respeito dessas coisas.

— A gente se acostuma com o que vê. E eu, desde que me entendo, vejo eleitores e urnas. Ás vezes supprimem os eleitores e as urnas: bastam livros. Mas é bom um cidadão pensar que tem influencia no governo, embora não tenha nenhu­ma. Lá na fazenda o trabalhador mais desgraçado está convencido de que, se deixar a peroba, o ser­viço emperra. Eu cultivo a illusão. E todos se interessam.

João Nogueira reflectiu um instante:

— O que eu acho é que os deputados e os se­nadores são innuteis e comem demais.

Ia responder, mas notei que o dr. Magalhães se mexia. Fiquei com a resposta nas guelas. Elle conteve-se, e estivemos um minuto nesse jogo, cada