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Página:Graciliano Ramos - S. Bernardo (1934).pdf/85

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S. BERNARDO
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— Então, seu filho duma egua, esses arti­gos...

— Aquillo é matéria paga, explicou o Brito. Secção livre, não viu logo? Vamos á redacção, lá nos entendemos melhor.

Em resposta passei-lhe os gadanhos no cacha­ço e dei-lhe um bando de chicotadas. Juntaram-se muitas pessoas, um guarda civil apitou, houve protestos, gritos, afinal Costa Brito conseguiu escapulir-se e azulou pelo Commercio, em direcção aos Martyrios.

Encaminhei-me ao hotel, mas nem tive tem­po de almoçar, porque fui chamado á policia. Apertaram-me com interrogatorios redundantes, perdi o trem das tres e não consegui demonstrar ao de­legado que elle era ranzinza e estupido. Aborre­cido, aporrinhado, recorri a um bacharel (trezen­tos mil reis, fóra despesas miúdas com automovel, gorgetas, etc.) e embarquei vinte e quatro horas depois, levando nos ouvidos um sermão do secretario do interior, que me seringou liberdade de im­prensa e outros disparates.

No wagon comprei os jornaes do dia. Nenhum noticiava o espalhafato. Camaradas. Comecei a ler umas coisas interessantes sobre a apicultura. Pouco a pouco esqueci as burrices do delegado e o liberalismo do secretario. E, reconciliado com o Brito, confessei a mim mesmo que elle tinha bom coração e provavelmente não reincidiria. Concen-