Saltar para o conteúdo

Página:Graciliano Ramos - S. Bernardo (1934).pdf/86

Wikisource, a biblioteca livre
84
GRACILIANO RAMOS

trei-me na leitura. Effectivamente as abelhas se­riam para nós uma fonte de riqueza.

Nesse ponto veio sentar-se a meu lado uma se­nhora vestida de preto. Como o sol a incommo­dasse, baixei a portinhola.

— Agradecida.

Reparando nella, reconheci a mulher que, um mez antes, em casa do dr. Magalhães, escutava o romance de d. Marcella.

— Não tem de que, d. Gloria.

Notei que ella estava com um pacote a furar-se nos joelhos agudos e pedi-o, colloquei-o junto á minha bagagem. Era uma velha acanhada: sor­riso insignificante e modos de pobre. O trem poz-se em movimento. E encetámos um dialogo que se foi animando até nos tornarmos amigos.

— Esta Great Western é uma joça. Porcaria! Isto nunca foi carro. Que chiqueiro!

Inicio de ordinario com phrases assim as minhas viagens a trem. D. Gloria sobresaltou-se, re­ceando que a companhia ouvisse. Em tom confi­dencial, achou que os carros não eram bons.

— Péssimos, d. Gloria.

Ella attentou em mim com respeito:

— Creio que já nos vimos. Não me lembro. A minha memória é uma lastima.

— Em casa do juiz, o mez passado. A senho­ra e uma mocinha loura...

Arregalou os olhos:

— Ah! sim.