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Página:Graciliano Ramos - S. Bernardo (1934).pdf/89

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S. BERNARDO
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— Cento e oitenta mil reis ? Está ahi! É uma desgraça, minha senhora. Como diabo se sustenta um christão com cento e oitenta mil reis poi mez? Quer que lhe diga? Faz até raiva ver uma pessoa de certa ordem sujeitar-se a semelhante miseria. Tenho empregados que nunca estudaram e são mais bem pagos. Porque não aconselha sua so­brinha a deixar essa profissão, d. Gloria?

D . Gloria referiu-se á difficuldade de arran­jar empregos e ao monte-pio.

— Que monte-pio! Isso vale nada! E em­pregos... Vou indicar um meio de sua sobrinha e a senhora ganharem dinheiro a rodo. Criem gallinhas.

D . Gloria formalizou-se, e um passageiro proximo, como eu gritava enthusiasmado, poz-se a rir. Era um mocinho de bigodinho e rubi no dedo. Approximei delle o rosto cabelludo e a mão cabelluda:

— O senhor está rindo sem saber de que. Vejo que possue uma carta. Quanto lhe rende? Se não tem pae rico, deve ser promotor publico. Faria melhor negocio criando gallinhas.

O mocinho encabulou.

— Boa occupação, d. Gloria, occupação de­cente. Se quizer dedicar-se a ella, recommendo-lhe a Orpington. Escola! Bestidade. Abri uma na fazenda e entreguei-a ao Padilha. Sabe quem é? Um idiota. Mas diz elle que ha progresso. E eu acredito. Pelo menos o Gondim e padre Sil-