Página:Grammatica Analytica da Lingua Portugueza.pdf/18

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traiçam ; chão por cham, cão por cam ; e os presentes amão, levão, armão, por amam, levam, armam, etc.

Mas neste particular continuou e continua ainda grande discrepancia e incoherencia na orthographia. Porêm he de advertir que no caracter da nossa prosodia e no da lingua roman e da castelhana, a desinencia an, a que corresponde a nossa am, he uniformemente longa. Ex. Traran, vuelveran, e em portuguez Adam, Ainam, Seringapatam, Balaam, Roboam, tem todos a final longa ; e os antigos escrevião por om as finaes longas e as breves. Ex. matarom, morrerom, farom, futuros, e matarom, morrerom, fezerom, preteritos ; donde se segue que o ão actual deve igualmente servir quando he longo e quando he breve, sendo escusado multiplicar signaes para hum som da mesma natureza, e bastando, em casos de duvida, accentuar a syllaba precedente quando ão he breve. Ex. armárão preterito. Os que escrevem por am a desinencia breve ão, devem, para ser consequentes, escrever soam, terceira pessoa do verbo soar, e suam a do verbo suar, confundindo-se ambas com o vento Suam ou Soam, que assim se acha escripto em muitos autores antigos. Por este systema igualmente se confunde tão comparativo, de tantus, com tam adverbio, cujo significado he bem diverso : tam pouco e tão pouco são expressões inteiramente differentes.

U he longo ou breve, mas não muda de som, senão quando se torna palatal ou nasal. Os antigos escrevião ũ, mas hoje preferimos notar este