Página:Grammatica Analytica da Lingua Portugueza.pdf/273

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trar temos interior, interno, introito, introduzir, etc. Em fim, a par de agua ou agoa, e de aguia, temos os derivados correctos do latim aqua, aquila : aqueducto, aquoso, aqueo ; aquilino, aquilifero.

Estabelecer uniformidade entre estas familias de palavras he cousa impossível, porque as que mais se desvião da raiz, são justamente aquellas que mais antigamente forão aportuguesadas, e que por conseguinte constituem a base da lingua. Não ha pois outro partido a tomar senão de respeitar a corrupção do radical em humas, seguindo nas outras a correcta derivação. Quem hoje dissesse ou escrevesse aqua, aquila, por agua, aguia, seria com razão taxado de pedante.

Applicando esta regra, digo que todas as vezes que huma letra radical he pronunciada, na conversação, na tribuna, no pulpito ou na declamação theatral, em diversas palavras de huma familia, deverá escrever-se, ainda naquellas em que nunca soa ; v. g. signal, assignalar ; acção, acto ; victoria, victorioso ; dicto, dictado, dictador ; prompto, excepto, correcto, etc, e derivados, posto que nos mais d’elles e no radical portuguez, não soe o g, c, ou p, mas por soar huma destas letras em signo, insignia, promptuario, exceptuar, correcção, correccional, actual, actor.

A mesma regra se applica aos diversos casos de letra ajuntada, tirada, substituida ou transposta, nas palavras derivadas do latim. Deve seguir-se, quanto for possivel, a orthographia dos radicaes nas palavras que mais conservão a pureza da derivação ;