Página:Grammatica Analytica da Lingua Portugueza.pdf/278

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e u mudada em o surdo ; Ex. mutus, surdus, alienus, genu, cornu, de que fizemos, mudo, surdo, alheio, joelho, corno : ate em ade ; v. g. libertate, veritate, mudados em liberdade, verdade. Os diphthongos æ, œ, mudão-se em e, é ou ê.

N. B. Algumas poucas palavras portuguezas de origem latina ou grega se escrevem por uso com hum h inicial ou medial, que não existe nos radicaes latinos ; v. g. hum de unus, he de est, cahir de cadere, sahir de salire. Os nossos antigos escrevião igualmente ho por o, hodio por odio, sem duvida, usando do h como signal de aspiração, á imitação dos Romanos. Muitos modernos, tanto dos que se encostão á etymologia, como dos que só tomão por base a pronuncia, querem que se escreva um, uma, é ; mas não ha razão para fazer esta mudança na orthographia a mais antiga e a mais constante, e pelo contrario ha motivo sufficiente para a conservar.

A respeito de hum, deve notar-se :

1º Que os antigos aspiravão ligeiramente o u e por isso usavão do h ; e pela mesma razão escrevião nem ou nẽ ou hũu, e não pronunciavão como nós nenhum, nenhures, alhures.

2º Huma prova evidente d’esta verdade, he que ao mesmo tempo que escrevião hum ou , hũa, escrevião e pronunciavão como nós, unidade, uno, uniforme, unanime.

3º Em fim, a contracção de unum em um necessariamente exigio hum signal que desse força á vogal