Página:Grammatica Analytica da Lingua Portugueza.pdf/290

Wikisource, a biblioteca livre

o portuguez. O som nasal era hum elemento da pronuncia de algumas das linguas que se fallavão na peninsula hispanica antes de ser conquistada pelos Romanos, e por isso quando começárão a fallar latim pronunciárão lũ–a, em vez de luna ; bõ–o por bono, etc. Entre as nações que habitavão esta peninsula humas affeiçoavão as vogaes nasaes, e outras fazião dellas menos uso ; por isso, no dialecto castelhano prevaleceo o n latino articulado, e nelle não existem diphthongos nasaes.

Em portuguez só temos duas excepções á regra, que nos diphthongos nasaes só a primeira he fanhosa : huma he no plural põem, para o distinguir da ter ceira pessoado singular põe, ou do imperativo põe tu. Em põem ou põẽ ambas as vogaes são nasaes, mas a segunda he subordinada á primeira e menos forte. E em ruim ou ruin, e poucas outras vozes em que a segunda he a fanhosa ou nasal.

De tudo o que precede concluo que não ha motivo para fazer mudança notavel no systema orthographico que estava em uso geral no seculo passado, e particularmente na ultima metade d’elle. Todas as innovações contrarias ao uso da escriptura e da pronuncia actual são inadmissiveis, e tambem o são as que tem por objecto a suppressão de letras que na conversação não soão. Do primeiro abuso podem servir de exemplo as seguintes palavras : nem um, por nenhum ; susceder, pronunsiasão, prinsipio, por succeder ou suceder, pronunciação, principio ; dirivar, por derivar ; dino, por digno. Do segundo são exemplos : pratica, s., praticar, acão,